Sunday, December 21, 2014

“Babalóriṣa”


 

 
Lembro como tivesse acontecido ontem:

Era década de 1970, e passava eu pela praça da Sé, na nossa Salvador da Bahia, quando escutei de uma loja de discos, uma batida de atabaques ritmada pelo som do agogô. Sentia uma atração irresistível pelo candomblé, enquanto ouvia de meus pais (mais precisamente do meu pai) recomendações desabonadoras sobre “gente de candomblé”. Tudo isso para mais tarde constatar que todos da família do meu pai e parte da família da minha mãe era “gente de candomblé”).

Voltando a praça da Sé, me vem nos ouvidos a voz marcante, gutural, na qual o solista entoava aqueles versos maravilhosos em língua Ioruba. O `Pai de Santo` cantava para Exú:

 

“ – Ibarabô Exú bara Ibá Koxé....”

 

 Era a voz de Luís da Muriçoca, gravada em um disco antológico.

Nos dicionários, ele é Luís Alves de Assis, ou o Babalorixá Luís da Muriçoca, nascido em 1920, e esteve à frente do terreiro Ilê Axé Ibá Ogum por várias décadas. O terreiro foi fundado em 1890, e localiza-se em Salvador, na Avenida Vasco da Gama, no Vale da Muriçoca...e por aí vai; Porém, para minha modesta pessoa e para alguns que tiveram a HONRA de ter compartilhado o mesmo ar com aquele ícone da nossa cultura, ele era Oguntoshi.

Mas o motivo maior para essa intervenção é a relação entre uma faixa do disco Candomblé da Bahia, de Luís da Muriçoca, de título Babalorixá e o despertar do meu interesse por uma maior compreensão da língua Ioruba. Nessa faixa, Oguntoshi declama uns versos segundo um fraseado que se escuta mais ou menos assim:

 

Li lolô orukó ré baba, ati emum ati emi baba....”

 

Nos anos 1980, comecei a interagir com estudantes nigerianos do programa de intercâmbio entre as Universidades Ilê Ifé e Universidade Federal da Bahia. Comecei a checar o fraseado, e não encontrava respaldo que desse suporte ao fraseado entre aqueles jovens, ou seja, eles não entendiam o fraseado. De início julguei que se tratasse de um desfasamento natural entre gerações e suas respectivas formas características de comunicação (as formas da comunicação utilizadas, naturalmente são diferentes) entre os que vieram como escravos no século 19 e as formas de comunicação em uso nos anos 1970/80). Em verdade, na minha ótica, a razão desse desfasamento entre comunicações dentro da mesma Língua Ioruba, se deve a esse fato e alguns outros acessórios, dentre os quais destaco o seguinte: A língua Ioruba é uma língua tonal, ou seja, mudando o tom ou a acentuação, muda o significado da palavra. Daí, o fato da transmissão do conhecimento da Língua Ioruba entre as nossas gerações, não ter acontecido de forma organizada, a língua Ioruba que nós praticamos no Candomblé, perdeu uma das suas características fundamentais: A tonalidade como forma de diferenciação entre palavras de mesma grafia. Como estudioso dessa forma de comunicação ainda em uso em alguns países do oeste da África, taus como a Nigéria, o Benin, Togo, etc., hoje reescrevi essa saudação assim:

 

Li Lọ́rọ̀ Orúkọ rẹ̀ Baba

 

A ti E̟ mọ, a ti E̟ mi Baba Ọlọ́run kọ rẹ̀

 

Ògún Iyè pàtaki orí awa meji

 

O so ẹni tí s̟aláyìn dodo adé gún rú n rin

 

Ohun Iyè ati sále

 

Ọbaolúaye a s̟e gb lgbe

 

Àkọ́rọ̀-ojo a fun ran súrù

 

A sun a rí gẹ́rẹjẹ ibi

 

Şàngó mọ gbọnra ti s̟e ere jẹ́jẹ́ ere

 

Ǫmǫ nlǫ san gbndu ni Àşa

 

Kẹ̀rẹ kẹ̀rẹ

 

Agora vejamos uma análise de cada uma das formas(frases) dadas acima, com as respectivas traduções:

 

Li Lọ́rọ̀ Orúkọ rẹ̀ Baba

 

 (Apelamos desesperadamente ao Vosso nome Pai)

 

 A ti E̟ mọ, a ti E̟ mi Baba Ọlọ́run kọ rẹ̀  

 

(Nós o conhecemos, Pai como Deus)

 

Ògún Iyè pàtaki orí awa meji

                         

(Que a guerra seja na medida dos dois caminhos)

 

O so ẹni tí s̟aláyìn dodo adé gún rú n rin

 

Ele vê os que não louvam com justiça ao longo da caminhada

 

Ohun Iyè ati sále

 

(Na busca pela sobrevivencia)

 

Ọbaolúaye a s̟e gb lgbe  

 

(O Senhor da Vida nos iguala)

 

Àkọ́rọ̀-ojo a fun ran súrù

 

(As primeiras chuvas trazem a esperança da espera)

 

A sun a rí gẹ́rẹjẹ ibi

 

(Nós oferecemos a vida)

 

Şàngó mọ gbọnra ti s̟e ere jẹ́jẹ́ ere

 

(Xangô faz estremecer todo o corpo e o torna infantil)

 

Ǫmǫ nlǫ san gbndu ni aşa

 

(As crianças são pequenas e robustas por costume)

 

Kẹ̀r kẹ̀r

 

(Gradualmente)

 

Pois é, meu querido leitor, minha querida leitora. Assim é a Língua Ioruba, uma ferramenta cultural rica e valorizada por antropólogos de várias nacionalidades ao redor do mundo. O professo Kayode J. Fakinlede, autor do livro “Beginner´s Yoruba” (Ioruba para Iniciantes) escreve no primeiro diálogo do seu livro:

 

Edè Yorùbá dùn púpọ̀ láti kọ́. Bótilẹ̀jẹ́pé ó s̟òro díẹ̀ láti mọ

 
Ou seja (em Português) “A língua Ioruba é muito interessante, porém um pouco difícil para aprender”.

 

 

 

 

 

 

Saturday, September 20, 2014

Embaixada da Nigéria e FIEB lançam em Salvador o I Seminário sobre Oportunidades de Negócios e Investimentos na Nigéria


O Centro de Negócios Nigéria-Brasil (CNNB), com o apoio da Federação das Indústrias do Estado da Bahia – FIEB (através do seu Centro Internacional de Negócios – CIN) realizou no dia 17 de setembro próximo passado, o I SEMINÁRIO OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS E INVESTIMENTOS NA NIGÉRIA. O evento contou com a presença da Primeira Secretária da Embaixada da Nigéria no Brasil, Sra. Rosemary E. Oseyi-Okosodo (que na oportunidade representou o Embaixador da República Federal da Nigéria no Brasil, o Sr. Adamu Emozozo) enquanto a FIEB foi representada pelos o Srs. Carlos Henrique Gantois, Vice-Presidente (que na oportunidade representou o Sr. Carlos Gilberto Cavalcante Farias, Presidente daquela entidade), e Reginaldo Rossi,Vice-Presidente da Confederação das Indústrias do Estado da Bahia (CIEB). Na audiência, empresários, representantes de grandes empresas de setores da indústria interessados.
O evento tem como objetivo abordar as oportunidades de negócios e investimentos na Nigéria para auxiliar os empresários que desejam começar a exportar ou aumentar sua presença naquele mercado visto que os governos do Brasil e da Nigéria assinaram recentemente acordos bilaterais, em áreas como agricultura e segurança alimentar, petróleo, energia, bicombustíveis, mineração, cultura, educação, comércio e aviação.
A visita da presidenta Dilma Rousseff a Nigéria em fevereiro de 2013, estabeleceu um mecanismo de diálogo estratégico entre os dois países. Durante a sua visita as autoridades brasileiras afirmaram que é intenção do governo impulsionar, não apenas o comércio, mas também estabelecer parcerias na área de ciência e tecnologia.
Após as boas vindas aos participantes, foi proferida a palavra de abertura do evento, pelo Sr. Carlos Gantois em nome do Presidente da FIEB. Em seguida, foi a vez da Sra. Rosemary E. Oseyi-Okosodo ler a mensagem oficial do Embaixador da Nigéria no Brasil, o Sr. Adamu Emozozo dirigida aos potenciais investidores baianos.
Por último, o Sr. Michael Olúsegún Akinruli, CEO do Centro de Negócios Nigéria-Brasil (CNNB), falou oficialmente em nome da República Federal da Nigéria, convidando a comunidade empresarial baiana para integrarem a Missão Empresarial que visitará a Nigéria entre os dias 1º e 7 de dezembro desse ano de 2014. O CNNB tem um escritório em Belo Horizonte,MG.
  
Crédito Imagem/Foto: Marcelo Gandra/Coperphoto/Sistema FIEB

 contatos CNNNB olu@nigeriabrazil.org 

Monday, September 8, 2014

Ẹ mo ri O!

O texto que segue é dedicado ao Professor Dr. e Acadêmico Ogán Ordep Serra e a minha querida Ekedji Cinha e ao meu tio Arnaldo Silva, da Escola de Samba Filhos do Tororó.
Ekedji,Ago mo juba Egbon mi Ki Ọlọ́run Fe̟ O
“ emoriô deve ser
uma palavra nagô
uma palavra de amor
um paladar... emoriô deve ser

alguma coisa de lá
o Sol, a Lua, o céu
pra Oxalá...” Compositor: João Donato (música) Gilberto Gil (letra)

Acho que todos na Bahia já ouviram essa música gravada.

Que delícia o som dessa música, não é?!  

Os dois motivos principais para esse artigo foram:
1) o programa “Saraus” da Globo News, no qual o Jornalista Chico Pinheiro se delicia e nos delicia com boa música, através de seus convidados maravilhosos e
2) A posse do (meu amigo e irmão em Xangô) Antropólogo Cachoeirano Ordep Serra, na cadeira 27 da Academia de Letras da Bahia (ALB) nessa quinta-feira próxima passada dia 4 de setembro, para ocupar a vaga deixada por James Amado. Vale lembrar que Serra também é escritor, premiado duas vezes com um livro de contos, pela própria ALB, além de ser especialista em cultura grega e maior defensor da nossa (dele também) Cultura Jeje-Bantu-Nago- Ameríndia.
Quando assisti ao programa da série “Saraus” no qual o convidado era ninguém menos que o João Donato, eu, finalmente atentei para a autoria da música “Emorio”, vez que eu só enxergava o nome de Gilberto Gil associado a esta delicia sonora. Em especial quero destacar o batuque bem nosso que o Robertinho Silva fez na bateria juntando tambores e agogô naquela oportunidade... que maravilha!. Transportei-me a oportunidade que tive de dançar Ijexá no Aconchego da Zuzú com a própria Mãe Zuzú, já com mais de 100 anos de idade, há alguns anos.
Mas a história não começou aí. Eu era criança no bairro do Tororó, sobrinho de Arnaldo Silva, filho de Conceição, irmã mais velha dele (hoje no Ọrun), e costumava aguardar, como todos no bairro, com ansiedade, a visita dos Filhos de Gandhi, que acontecia, na terça-feira de Carnaval, constituindo assim um clímax do festejo, ao lado da saída da Escola de Samba Filhos do Tororó.
É preciso colocar o processo de assimilação da cultura Iorubá-Nagô no recorte delineado pela cultura eurocêntrica imposta ao povo brasileiro e baiano pelas elites de poder desde a epopéia do “descobrimento”, passando pelas “Entradas e Bandeiras” e pela “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freire. Esse recorte cruel foi muito bem assimilado pela massa popular da Bahia dos idos de 30,40 e 50, época florescente do projeto eugenista da sociedade brasileira, que via no “branqueamento” do povo a “solução” para “os problemas” do Brasil. Com todo o respeito que merece um Gilberto Gil e um João Donato, peço licença para depor com conhecimento de causa sobre os fatores que nos distanciam da Cultura Iorubá-Nagô, legado tão rico que traz estudiosos de todas as partes do mundo interessados nos sues detalhes que só permaneceram aqui por terem sido preservados com obstinação pelos Templos Religiosos de Matriz Africana.
Na minha casa, (preciso enfatizar que minha casa era uma casa de gente preta?) o que era defendido de forma tácita e implícita, e explicita (quando tal face da educação se tornava de exposição necessária) era a adoção do modelo etnocêntrico europeizante. A esperança era de que os filhos tivessem o “bom senso” de “limpar a família”. Minha mãe foi criada por uma família de mulatos de pele clara que ascenderam à classe média. Daí, o leitor pode fazer a sua leitura.  
Gente, o processo de discussão sobre a diversidade étnico-racial que vem ocorrendo em todo o mundo, tem se dado também no Brasil em vários setores da sociedade. Entretanto, não há uma discussão efetiva em torno do cerne da verdade, e sem a verdade toda a discussão se torna cosmética e será substituída pela próxima moda. O resgate histórico da situação do afro-religioso, desde os diversos momentos incluindo o momento no qual foi interditado por força de  lei, a qual só cessou na década de 70 com o Governador Roberto Santos, precisa ser discutido de forma sincera e corajosa para garantir,de vez, ao povo, o direito ao livre exercício de sua religiosidade, ao exercício escolar da História do Negro , e o acesso das comunidades vulneráveis (muito mais numerosas,do que reflete a vã estatística do Estado) à escolaridade e a outros bens e serviços que refletem no nível de desequilíbrio e da violência.
Quanto à “palavra Emoriô”, não é uma palavra e sim uma frase, que em Iorubá se escreve como mo ri O” e significa “Eu Te vejo”. No caso o “O” maiúsculo é que enfatiza referencia a um Ser Superior, digno de Reverencia, daí a associação a Oxalá, ou em Iorubá Òris̟a ni ńlá”, que significa “Guardião que está no alto”, ou “Orixalá”, ou como pronunciamos na nossa Bahia, OXALÁ.

Referencias:

1.      Emoriô http://www.vagalume.com.br/joao-donato/emorio.html (acessado em 08/09/14);
2.      FERNADES, Gláucio da Gama. SILVA, Arlete Oliveira da Conceição Anchieta da. LIBERDADE RELIGIOSA NOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS: UM ESTUDO NA CIDADE DE MANAUS – AMAZONAS. http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1308348266_ARQUIVO_LiberdadeReligiosanosCultosAfro-brasileiros-CONLAB.pdf  acessado em 08/09/14;
3.      O antropólogo Ordep Serra é eleito para a Academia de Letras da Bahia http://www.metro1.com.br/antropologo-ordep-serra-e-eleito-para-a-academia-de-letras-da-bahia-6-47331,noticia.html (acessado em 08/09/14);


Sunday, July 27, 2014

Alaafin Ilú-ọba Ọ̀yọ́ ti dé

A tradução do título acima para o Português é:

O Alaafin do Império de Oyó chegou!


A palavra Iorubá “Ọba” traduzida para o Português significa “Rei”. Porém nas terras Ọ̀yọ́ (que nós vamos transliterar para o Prtuguês como “Oyó), a palavra usada é Alaafin (que teria como origem etimológica a palavra “Ofín” que significa “Aquele que dita as Leis”, ou “Senhor da Lei”, ou “Legislador”).
Amanhã, dia 28 de Julho, acontecerá a abertura do 1º Seminário para Preservação do Patrimônio Cultural Compartilhado entre o Brasil e a Nigéria, com resultado da iniciativa conjunta de cinco Templos da Tradição Iorubá-Nagô que já foram devidamente  tombados como patrimônio nacional do Brasil. São eles:  Ilé Àse Iyá Nassó Okà (Casa Branca do Engenho Velho), Ilé Àse Opo Àfonjá, Ilé Iyá Omi Àse Iyamassé (Terreiro do Gantois), Ilé Maroialaji (Terreiro Alaketu) e Ilé Osùmàré Arákà Àse Ogodó (Casa de Oxumarê). A referida iniciativa conta com o apoio do Ministério da Cultura, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN e do Governo do Estado da Bahia, e é parte do esforço para o incentivo e promoção da interlocução acerca da preservação e salvaguarda dos nossos bens culturais.
Este seminário contará, sobretudo, com a valiosíssima participação de representantes vindos da Nigéria, um dos principais berços das religiões tradicionais africanas preservadas no Brasil. Integrarão o grupo: o Ministro da Cultura do governo nigeriano, líderes tradicionais representantes da diversidade cultural da cidade de Oyó e, finalmente, Sua Majestade Imperial, o Alaafin de Oyó, Oba Ladeyemi III, acompanhado de sua comitiva tradicional. Este último é tido como pai e guardião do povo ioruba, herdeiro da coroa de Xangô.
O império de Oyó era um império Iorubá localizado em uma região geográfica que engloba o que é hoje as partes ocidental e norte da Nigéria. Foi fundado no século 14, e cresceu para se tornar um dos maiores estados do Oeste Africano encontradas pelos exploradores pré-coloniais. Ele floresceu a custa da capacidade de organização dos Iorubás. A sua riqueza obtida através do comércio e das conquistas da sua poderosa cavalaria. O império de Oyó foi o estado politicamente mais importante na região a partir de meados da década do século 17 até o final do século 18, dominando não só a maioria dos outros reinos das terras Iorubás, mas anexando também partes de estados africanos vizinhos, especialmente as terras a oeste, pertencentes ao Reino Fon do Daomé,localizado onde está hoje a moderna República do Benin.
O Obá (Rei em Iorubá) Lamidi Olayiwola Adeyemi III (nascido em 15 de outubro, 1938) é o Alaafin, ou governante tradicional, do estado de Oyo. A capital de Oyó é Ọ̀yọ́-ilẹ̀. A língua oficial é o Iorubá, e a religião é a Religião Tradicional Iorubá, ou seja, é o culto aos Orixás. Dentre os Monarcas mais importantes da história de Oyó, estão:
1.     Oranyan ( Fundador mítico do Imperio de Oyó)
2.     Ajaka
3.     Xangô
4.     Ajaka
5.     Aganju
Serão realizadas mesas-redondas, palestras, apresentações culturais e visitas às cinco casas tombadas.

28 de julho (segunda-feira) 
Fórum Ruy Barbosa (Palácio da Justiça)

14:30 a 15:50 | Solenidade de Abertura.

16:00 a 16:40 | Palestra magna de Sua Majestade Imperial, o Alaafin de Oyo.

16:40 a 17:00 | Apresentação Cultural. 

17:00 a 18:30 | Mesa-Redonda 1: Nos caminhos de Xangô: o patrimônio cultural compartilhado entre Oyo e a Bahia.
1) A importância do Império de Oyo e a riqueza cultural preservada na cidade de Xangô;
2) A centralidade do culto de Xangô nos terreiros de Candomblé Nagô da Bahia e suas ligações com império de Oyo. 

18:30 a 20:00 | Mesa-Redonda 2: Problemáticas e Instrumentos da Preservação e Salvaguarda do Patrimônio Compartilhado no Brasil e na Nigéria.
1) Políticas públicas para a preservação e valorização do patrimônio cultural dos povos e comunidades de matriz africana no Brasil (tombamento, mapeamentos e planos de gestão integrada);
2) Proteção e gestão do patrimônio cultural da cidade de Oyo: possíveis mecanismos de proteção. 

29 de julho (terça-feira)
09:00 a 12:00 | Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho
Visita da comitiva de Oyo ao Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho encontro sobre ações preservacionistas, origens, ancestralidade e manutenção das tradições.
14:00 a 17:00 | Casa de Oxumarê
Visita da comitiva de Oyo à Casa de Oxumarê encontro sobre ações preservacionistas, origens, ancestralidade e manutenção das tradições.

30 de julho (quarta-feira)
09:00 a 12:00 | Ilê Àse Opo Afonjá
Visita da comitiva de Oyo ao Terreiro Ilé Àse Opo Àfonjá para encontro sobre ações preservacionistas, origens, ancestralidade e manutenção das tradições.
14:00 a 17:00 | Terreiro Alaketu
Visita da comitiva de Oyo ao Terreiro Alaketu para encontro sobre ações preservacionistas, origens, ancestralidade e manutenção das tradições.

31 de julho (quinta-feira)
09:00 a 12:00 | Terreiro do Gantois
Visita da comitiva de Oyo ao Terreiro do Gantois para encontros sobre ações preservacionistas, origens, ancestralidade e manutenção das tradições
31 de julho (quinta-feira)
09:00 a 12:00 | Terreiro do Gantois
31 de julho (quinta-feira)
13:00 a | Saída para a visita a Pedra de Xangô, na Fazenda Grande II



Monday, July 14, 2014

O significado original da palavra “IAÔ”

Quando perguntados sobre o significado da palavra “IAÔ” (que é a pronúncia comumente atribuída à palavra “IYAWÓ”, da língua Iorubá), as pessoas ligadas ao Candomblé, iniciados ou não, e até mesmo os próprios Iorubanos dos nossos dias respondem: “Esposa”, mesmo sabendo esses últimos, que a palavra mais adequada para representar o substantivo (ou mesmo adjetivo) “ESPOSA” na língua Iorubá, é a palavra “AYA”.  Então, como a palavra ioruba para “IYAWÓ”, veio a representar a “ESPOSA”? Existe um Odú do Ifá (um trecho do Iwe Odu Ifa --- Ogbe Oyeku - Ogbe Ofun) que explica a etimologia da palavra “IYAWÓ”. Havia um Reino Iorubá de nome Iow. O seu Rei estava para casar a sua filha mais velha. Vários forma os pretendentes que se apresentaram para receber a mão da jovem em casamento. Dentre esses estavam Ogun Xangô e alguns outros Orixás de peso e nome. A jovem, de nome Iya, a todos desprezou. Além de maltratá-los, e se mostrou uma pessoa rude e de comportamento explosivo e problemático. Todos esses pretendentes fugiram no primeiro dia que passaram no Reino de Iow.

Antes de viajar para Iow, Orunmilá foi advertido de que, não se importasse com o comportamento que Iya tivesse para com ele. O conselho que lhe foi dado foi que tivesse muita paciência, pois seria extremamente maltratado e humilhado pela sua pretendida, mas que suportasse o teste.

Dito e acontecido. Ao chegar à presença de Iya, esta, ao ver Orunmilá soltou ela um silvo de serpente. Depois disso, ela não o cumprimentou nem retribuiu seu cumprimento. Ela chamou Orunmilá de todos os tipos de nomes, impropérios imprecações e atribuiu a ele todas as piores qualidades que pode imaginar. Não preparou para ele qualquer alimento ou dedicou lhe qualquer forma de entretenimento, como rezava o costume com relação a visitantes. Orunmilá apenas a ignorou. Assim neste quadro de iniqüidades, passaram os dias. O primeiro dia, o segundo dia, até cerca do sétimo dia. Nesse dia, para coroar todas as humilhações, Iya tomou de Orunmilá o seu Opon-Ifa e usou como instrumento de cozinha, e tomou a sua bolsa (APON OMINIJEKUN). Esses dois atos enfureceram a Orunmilá enormemente. Mas, mesmo assim, ele se recusou a reagir. Não mostrou qualquer sinal de raiva ou aborrecimento. O Rei, a distancia, tudo observava, e notou que Orunmilá era muito paciente e que no longo prazo, cuidaria bem da sua filha, e seria um bom esposo para ela. Pelo seu comportamento, o Rei  sentiu  a garantia de que ele seria o esposo ideal para sua filha se ela se tornasse esposa de Orunmilá. Assim, o Rei chamou Orunmilá e deu Iya a ele como esposa. Além disso, ele repartiu sua propriedade em duas partes, dando uma delas para Orunmilá, que assim tornou-se rico e tinha como Iya. De volta a sua cidade natal, as pessoas vendo que ele trazia ao seu lado, uma nova esposa, perguntavam sobre ela e ele respondia: “Ìyà-ti-mo-jẹ́-ni-Iwo”, que traduzido para o Português significa: “o resultado do meu martírio em Iwo”. Estas seis palavras foram condensadas em uma só: Iyawo, que representa essa passagem do revelada no Ifá e significa também uma boa esposa, vez que Iya se tornou uma excelente esposa. 

Referencia
https://www.facebook.com/notes/olaniyi-oluwatobi/original-meaning-of-iyawo/10201462489105778
Imagem: http://baronsamedilwaguede.blogspot.com.br/2011/03/ikodide.html 


Friday, January 24, 2014

A língua Iorubá do Candomblé Keto-Nagô




Primeiramente, peço a Benção ao meu pai Doté Amilton,

Doloême, Doté! 


Abo̟ru Bo̟ye fun Baba Baba Abimbọla




Às minhas Madrinhas Mãe Flor, e Mãe Deca de Lemba. A benção meu pai pequeno Dazinho, A benção Hunsó Rita, A benção Dofono George Sogbossi. A benção Minha Comadre Ninha, ou melhor, Ialorixá Araundê, que curou o umbigo de minha filha caçula Silvana (hoje com 30 anos e mãe do meu neto mais velho e prestes a me dar Ibeji.). Peço a benção a todos os Mais Velhos. Expresso o meu mais profundo respeito pelo trabalho desenvolvido em prol da preservação dessa rica cultura oral que nos foi transmitida e pela qual devemos lutar e buscar o resgate da ligação com a fonte da matriz africana sob pena de nos tornarmos a geração responsável pela perda desse imenso e ainda pouco valorizado acervo de conhecimento humano.
Venho fazer uma breve referência à língua Iorubá-Nagô O Iorubá é uma língua tonal com três níveis distintos: alto, baixo e médio (o tom padrão). Cada sílaba deve ter pelo menos um tom, uma sílaba que contém uma vogal longa pode ter dois tons. Na escrita do Iorubá, tons são marcadas pelo uso do acento agudo para denotar o tom alto,  (á, ń), o acento grave para denotar o sam baixo (à, ǹ); Já o tom médio não é acntuado, exceto quando em sílabas nasais sonde é indicado usando uma barra sobreposta (ā, ).
Alguns exemplos:

Alto: ó bẹ́ 'ele/ela pulou'; síbí 'colher'
            Médio: ó bẹ ' ele/ela está adiantado'; ara' 'corpo'
            Baixo: ó bẹ̀ 'ele/ela pede perdão'; ọ̀kọ̀ 'lança'.

 O Professor Altair T´Ogun diz que “ Apesar de pouco conhecido pela grande maioria dos adeptos da religião, o Iorubá é amplamente falado de maneira empírica apenas mecânica e meramente Mimética, repetindo-se o que foi dito e decorado anteriormente, na maioria das Casas (Ile,Egbe)”
Quando ainda criança, eu ouvia o povo cantar segundo o delicioso ritmo Ijexá (o ritmo dos Filhos de Gandhi) para Logún édé (aliás, Lògún d) o seguinte:

Solista:Ê Logum alô alô!
Coro: Fala Logum Fala Logun

Hoje, graças às pesquisas do Professor Altair, podemos resgatar o texto original da prosódia autenticamente Iorubá e cantar:
Solista: É Lògún rn, rn
Coro: Pa Lògún pa Lògún pa

Tradução:
Solista: Logum caça os animais
Coro: Logum mata, Lógun mata...

Ainda para Lògún d, eu escutava meus vizinhos catavam:

Solista: Logún ode cóya cóya, Logún ode cóya cóya, izo izo lala mi ló,Logún ode cóya cóya...

Novamente graças às pesquisas do Professor Altair, e de outros estudiosos abnegados podemos resgatar o texto original da prosódia autenticamente Iorubá e cantar:

Solista: Lògún d, kọ̀ ìyà kọ̀ ìyà, Lògún d, kọ̀ ìyà kọ̀ ìyà,
Ijó ijó firi l´ àyà, Lògún d, kọ̀ ìyà kọ̀ ìyà
Coro: Lògún d, kọ̀ ìyà kọ̀ ìyà, Lògún d, kọ̀ ìyà kọ̀ ìyà,
Ijó ijó firi l´ àyà, Lògún d, kọ̀ ìyà kọ̀ ìyà

Tradução:

Logum caçador  não castiga
Logum caçador  não castiga
A quem tem a dança no peito,
Logum caçador  não castiga...

Ọ̀kan pàtàkì lára àwọn èdè orílẹ̀ èdè Nàìjíríà ni èdè Yorùbá. Amẹ́ríkà bí i Cuba, Brasil, Haiti, àti Trinidad. Ní gbogbo orílẹ̀-èdè tí a dárúkọ, yàtọ̀ sí orílẹ̀-èdè Nàìjíríà, òwò ẹrú ni ó gbé àwọn ẹ̀yà Yorùbá dé ibè. Èdè Yorùbá jẹ́ èdè kan ti ó gbalẹ̀ tí ó sì buyì kákàkiri àgbáyé.
Tradução: Uma língua importante entre as línguas faladas na Nigéria é a língua Iorubá.América (EUA),Cuba, Brasil, Haiti e Tinidad, exceto na Nigéria, o tráfico de escravos levou para lá povos Iorubás. A língua Iorubá é respeitada em várias regiões do mundo
 A!

Mawo Nanansi Kwe Vodun Zo Adelson Sogbossi

Referencias:

1.      T´Ogun,A. B; Cantando para os Orixás; 4ª Edição;Editora Pallas; Rio de Janeiro; 2007;
2.      Yoruba Language; Wikipedia; Disponível em: (acessado em:24/01/14)